Ame amar o amor


Por muito tempo, eu estive vivendo em um mundo que era só meu. Completamente preso. Algemado à certeza de que jamais amaria outra vez. Estava convicto de que tentaria de todas as formas me manter imune ao amor que, embora tenha um nome bonito, causa coisas feias a quem não sabe senti-lo ou fazê-lo. E durante todo esse tempo, eu realmente consegui. Mas essa imunidade sempre me sufocou. E esse sufocamento refletia em tudo o que eu fazia na minha vida. A sensação era de que eu estava oco. Vazio. Incolor. Sem nada a oferecer.

A cada conquista, parecia que a vitória não estava tão vitoriosa como deveria. A cada feito, parecia que não estava bom o suficiente. A cada elogio que eu recebia, parecia que estavam mentindo para mim. 

É muito complicado viver a vida sem amor. E eu não limito amor somente entre um homem e uma mulher, eu falo do amor num modo geral. Amor no que se faz. No que se diz. Amor no que se absorve. Amor no que se deseja. Amor no que se conquista. Amor no que se vive.

Depois da minha primeira decepção amorosa, - antes de eu me fechar e me prender nesse universo contra o amor -, eu lembro que prometi para mim mesmo que só entregaria o meu coração novamente a alguém, quando encontrasse a pessoa certa. Mas como é possível encontrar a pessoa certa sem antes ter conhecido as erradas? Como é possível amar sem antes ter aprendido a fazê-lo? 

E com o passar dos anos, eu fui percebendo que se existisse um ranking de erros e acertos, eu com certeza estaria no topo dos erros. E foi aí que eu resolvi me libertar das algemas. Abandonar esse mundo. E abrir um espaço para que o tal do amor pudesse invadir a minha vida, tocar o meu peito e aquecer a minha alma.

E não é que deu certo? As nuvens cinza saíram para que o brilho do sol aparecesse e tocasse a minha pele. A chegada do amor na minha vida ardeu o meu corpo. Queimou o meu coração. E renovou o meu espírito. Tirou tudo do lugar e trouxe cheiro de novo.

Aprendi que nós, seres humanos, precisamos de decepções para aprender realmente a viver a vida. Que o coração precisa ser quebrado algumas - muitas ou poucas - vezes para que aprenda a ser mais firme. E que o amor precisa fazer doer um pouco para que aprenda a fazer sorrir. 

E, após ter tido esse choque de realidade, eu decidi que a partir de então, eu iria amar. Amar muito. Com força. Com vontade. Disposto a correr o risco de me decepcionar. Sim, porque nenhuma decepção vem antes de um sorriso de ilusão. E a ilusão traz bem estar no começo e aprendizado no final. 

O amor é como um caderno escolar. Ele armazena muitos erros, mas coleciona inúmeros acertos. E a cada nova etapa, é necessário por um fim com a sensação de missão cumprida, ou não. 

Então ame. Se entregue. Sorria. Sinta prazer. Se decepcione. Chore. Diga que não vai mais fazer. Diga que não irá mais se apaixonar. Diga nunca. E depois faça tudo de novo, só que a cada vez melhor. E um dia, quando você encontrar a sua pessoa certa, olhe para trás e agradeça a vida por ter conhecido todas as erradas.


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