Te amo o suficiente para abrir mão de você

Alô, amor? Você está brava comigo, né? Eu sei que está. E também sei que você está aí me ouvindo. A tua voz não sai, mas eu consigo ouvir a tua ira por entre o silêncio e também posso sentir o teu amor. Sim, é verdade. Porque nesse momento você tem todos os motivos para não querer nunca mais fixar seus olhos nos meus, mas o sentimento está gritando aí mesmo com toda essa a raiva que tenta ofusca-lo. E é por isso que você me atendeu e eu nem quero que diga nada, apenas ouça-me.

Sabe, é complicado passar por cima do meu ego - que afirma que estou certo enquanto a minha consciência grita que estou errado -, ter coragem de admitir a minha imaturidade e vir até aqui te pedir perdão. E eu estou aqui na frente do seu apartamento com os punhos queimando de tanto bater na porta que você não abre. Mas você está me ouvindo, então já basta, porque eu estou triste por te fazer sentir-se triste também. E o que eu menos queria era te causar tudo isso, só que é difícil controlar o meu ciúme compulsivo. Não é falta de confiança, nem insegurança, nem medo de te perder, nem nada que o clichê consiga explicar.

É que a minha necessidade de te ter só para mim é tão grande que chega a ser doentia. E eu definitivamente não quero controlar a sua vida. Só que é perturbadora a sensação de que você possa estar encontrando em outro cara algo mais intenso do que eu te apresento. Então pensando bem, é um pouco de insegurança da minha parte, sim. E eu não gosto disso.

Querida, eu te tenho como um bebê, assim, indefeso, pequenino, que precisa de cuidados, desses que precisamos sempre estar por perto para que a sua segurança se faça por completa. Sabe quando sonhamos que estamos caindo e sentimos aquela sensação de que o vazio preenche o nosso corpo? Então. Pode parecer loucura, mas tenho a mesma quando imagino você me trocando por outro. Só que de tanto te querer por perto eu acabo te levando para longe. E eu não tenho controle absoluto dessa situação. Logo, acabo agindo por impulso, causando confusões desnecessárias e interpretando coisas de forma totalmente contrária. E o mais impressionante é que eu nunca fui assim. Você me transforma.

Então ao mesmo tempo em que te peço perdão, te peço para que se permita ser livre a partir de agora. Porque o amor quando começa a causar incomodo e transmite a sensação de erro, é porque de fato tem algo errado. E nesse caso, eu sei que sou eu. Não estou satisfeito com tudo o que está acontecendo e com certeza você também não. É só contigo que ajo desta maneira. Não consigo me controlar ao ver outro cara ao menos te retribuindo um sorriso. E isso definitivamente não é normal.

O ciúme em exagero não é normal. Então prefiro ver você sorrindo para outro sem me sentir no direito de te cobrar nada, do que cobrar demais o que não há necessidade. Vai doer pra caramba. Mas tudo o que incomoda a gente acaba acostumando, e com o tempo nem lembramos mais que um dia incomodou. Eu quero o seu bem e sei que eu não sou bom o suficiente para te fazer bem, também.

Então é isso. Para finalizar essa conversa e esse nosso relacionamento de forma digna, eu ficaria bastante agradecido se você pudesse sair por esta mesma porta que me agrediu e me doasse um abraço. Sim, um abraço, e depois quero te olhar nos olhos e dizer que te amo. O suficiente para abrir mão de você e te dar a liberdade de encontrar em outro alguém o que eu não consigo e/ou não posso te dar. Abre aqui, vai. Prometo que é a última vez que te perturbo desse jeito.