Os dois amores de Miguel

Estudante de direito, vinte e poucos anos na coluna, 1.78 de sinceridade ácida, humor aguçado e um sorriso bem desenhado. Este é Miguel. Ou melhor, este sou eu.

Poderia incluir na minha breve descrição que a minha barba por fazer e o meu aroma másculo – que deixa rastros – me ajudam bastante a ganhar intimidade para sentir o cheiro do pescoço das mulheres que me atraem. Tudo bem, meu papo de galanteador quebra 70% do gelo, eu sei.

Sou o cara de olhar hipnótico que é completamente apaixonado pelas belas morenas de cabelo longo. Inclusive fui sou comprometido por um bom tempo com uma. A única que conseguiu produzir algumas doses de sentimentos dentro deste coração que ainda se mantém imune do tal amor. Porém preciso admitir que as moças de cabelo dourado também carregam dentro de si o poder aquecer o meu peito.

Antes de a minha namorada chegar, eu era o cara mais safado que já conheci. Sempre preguei que o homem nasceu com a missão de fazer as mulheres sorrirem, e eu realizava esta missão com sucesso, afinal não era a toa que todas as manhãs elas saiam do meu quarto com um sorriso de satisfação no rosto.

E para a minha surpresa, numa dessas manhãs uma delas não foi embora. Resolveu ficar para o café, acabou preparando um almoço e emendou para a janta que foi pizza. A partir deste dia a minha rotina mudou radicalmente e após dois meses de luta para conquista-la, consegui. Ela é aquele tipo de mulher durona, que você olha para a sua armadura e se intimida. Mas na verdade, por trás desse escudo existe uma mulher que se arrepia com mordidas, que afina a voz quando é surpreendida, que sussurra ofegante ao se declarar na hora do prazer e que necessita sentir-se protegida. Sem contar que é bem humorada. Tudo o que cooperou para que eu me apaixonasse mais a cada dia.

Mas a vida de um homem não é fácil, principalmente quando falamos de desejos, cobiça e prazeres. Nosso instinto não fala alto, ele grita. E num desses gritos, eu resolvi olhar para o lado para identificar de onde o vinha. Pequei. Ao virar, encontrei-me admirando uma loira de lábios finos e inocência no olhar. Não resisti. Em uma hora eu já sabia até o bairro em que ela morava. De fato, as melhores pessoas produzem as melhores conversas. Não sabia que aquele happy hour com os amigos, me traria uma surpresa – ou uma complicação – tão boa como essa.

Durante aquela noite nós trocamos olhares, sorrisos, toques, cheiros, beijos e números de celular. A loira não quis conhecer o meu quarto de imediato, estava acompanhada de algumas amigas e preferiu a opção “melhor não”.

Os dias foram passando, nosso contato aumentando, até que por fim, começamos a nos encontrar algumas poucas vezes – o que logo se tornou um hábito –. Ela era parecida com a minha namorada em algumas atitudes, porém era mais exigente, mais firme e nunca voltava atrás no que decidia. Ah se ela soubesse o quanto eu achava excitante toda essa marra...

Mas esse conto de felicidade, adrenalina e prazer não se estendeu por muito tempo. Após quase ter me afogado nas minhas próprias mentiras, o meu relacionamento começou a ficar meio balanceado. Um cheiro de desconfiança começou a pintar no ar e o meu caso cansou de ser esconder atrás das cortinas.

Minha morena pegou algumas mensagens que foram esquecidas de serem excluídas e a minha loira jogou-me contra a parede e pressionando-me a escolher com quem eu realmente desejava ficar. A indecisão e o medo de fazer o errado mais do que eu já havia feito tomavam conta de mim. Mas no fim, acabei nem tendo que decidir nada. Minha namorada acabou descobrindo a minha traição e se foi sem ao menos ouvir as minhas tentativas frustradas de me explicar.

Assumi o meu romance com a loira e não passou de três meses para eu perceber que aquilo jamais teria futuro. Existem romances que só dão certo às escondidas, no calor da adrenalina, no sabor do proibido. Em pouco tempo a rotina nos engoliu e terminamos como nos conhecemos, dois estranhos. E eu acabei sem a pessoa que de fato, me fazia feliz.

No fim de tudo, aprendi que se você estiver satisfeito com o que tem, e certo do que quer construir daqui para frente, pise firme, e caminhe reto. Não olhe para a direita, nem para a esquerda e muito menos para trás. A tentação vem de onde menos imaginamos.

E agora eu vou continuar estudando, para saber se é possível processar as mulheres por serem tão maravilhosas e tão complicadas. Talvez eu ganhe uma indenização bem prazerosa.

- risos -.