Amor de balada


Atender uma ligação às 10h da noite de um sábado - no qual você já havia decidido ficar em casa para descansar a semana de obrigações e afazeres no trabalho - recebendo um convite para curtir a noite junto dos amigos, não é uma ação muito boa. Embora a minha mente precisasse de descanso, o meu corpo precisava de música, pedia um pouco de álcool e queria se mexer para lá e para cá ao som de um remix agitado. Resolvi então, aceitar o convite. Já que, após aquela ligação, muito dificilmente eu conseguiria dormir imaginando o que poderia estar perdendo estando no conforto da minha cama compartilhando o vazio do meu quarto com o barulho do ar condicionado. Marcamos às 23h30 na frente da tal balada, que por sinal, era uma das melhores da cidade. Nada pontual, cheguei 20 minutos mais tarde, mas ainda dentro dos padrões, afinal, uma boa festa de fato só começa após as horas redondas. 

Encontrei a rapaziada e após uma pequena fila, - que me permitiu presenciar vários menores sendo barrados - entramos. Camarote. Dalí de cima, era possível observar todo o movimento que havia na balada. E dentre aos diversos tipos de pessoas que estavam presentes, enquanto os meus olhos faziam um movimento de 360°, avisto uma loira de cabelos longos com um copo - provavelmente de caipirinha - acima de sua cabeça, dançando com os olhos fechados. Linda. Encantadora. Fascinante. Acordei da minha hipnose com uma mão pesada sobre o meu ombro me virando para a reta guarda. Era Daniel, me trazendo um copo com bebida transparente e alguns cubos de gelo. Virei o copo sem hesitar e pude sentir agressivamente o calor que me causava por dentro. Ainda com a bela loira na cabeça, comecei a me divertir, bebendo com a galera e papeando sobre coisas fúteis resultando em altas gargalhadas. Mas sempre checando a cada 5 minutos se ela mantinha-se no mesmo lugar.

Após várias 'copadas' de várias bebidas que eu mal sabia o nome, resolvi sair do camarote e ir até a pista, tentar falar com ela na esperança de conseguir pelo menos o celular da maravilhosa loira. Com grande dificuldade de locomoção na pista, aos poucos fui aproximando-me, até por fim, vê-la com os braços em cima do balcão do barman, de costas para a pista. Pude admirar ainda mais suas perfeitas curvas, agora bem mais próximas dos meus olhos. Cheguei ao seu lado e, sem meias voltas, perguntei se podia lhe acompanhar naquela bebida. Ela mostrou dificuldade para compreender o que eu havia dito, culpa do som extremamente alto que dominava o local. Então eu repeti. Imediatamente, sorriu - que sorriso majestoso - e respondeu:

- Contando que eu não tenha que pagar pela sua, pode!

Além de linda era bem humorada.

- Pode deixar! - Risos.

Quando nos viramos novamente para a pista, ela avisou as amigas que dançaria comigo. E, sem meios termos, perguntei em seu ouvindo - podendo sentir o seu perfume agradavelmente doce, camuflado com o seu suor - o que uma mulher tão linda como ela, estava fazendo na pista, aproveitando para convida-la para o camarote.

- Não preciso estar em um camarote vip para saber que sou atraente ou que chamo atenção. Não é atoa que você está aqui!

Ual! Que direta, determinada e confiante. Gosto assim!

- De fato, sua beleza não precisa de área reservada. Você ilumina qualquer ambiente apenas com esse sorriso.

Ela sorriu novamente e quebrou a cabeça para a esquerda demonstrando ter gostado do que havia escutado. 
A cada música, íamos trocando mais ideias e ganhando um pouco mais de intimidade, ou talvez, liberdade. A essa altura do campeonato, eu já sabia qual era o seu curso na faculdade, e que ela estava na cidade apenas à passeio. Já no 4° copo de uma caipirinha consideravelmente forte, ela se aproximou e dançamos com os corpos mais colados, senti interesse. Colocou a mão esquerda sobre o meu ombro direito e eu me permiti segurar na sua cintura. Ela dançava com os olhos fechados, parecia sentir à música e cada batida agressiva do remix tocado. Então, após admirar por vários segundo e movimentando-me da mesma maneira para acompanha-la, não resisti. A puxei pela cintura fazendo-a abrir os olhos e sorrir. Entrada liberada. Beijei-a como se eu precisasse daquele beijo da mesma forma que preciso de oxigênio para viver. Pude sentir o gosto do álcool ofuscado pelo calor macio dos seus lábios. Não sei quanto tempo aquele beijo durou, mas eu posso afirmar ter sido o melhor que já dei e recebi até hoje. Loira faceira. Pude vê-la mordendo os lábios após desgrudarmos, mas totalmente natural, nada vulgar. 

Naquele momento eu já estava me sentindo vitorioso e até mesmo orgulhoso por ter conseguido um beijo de quem eu achava que nem sequer aceitaria dividir um drink comigo, quem dirá uma dança com um beijo - e que beijo - de brinde. Ficamos nos presenteando com beijos, danças e amassos durante bastante tempo. Sabia que ela voltaria para sua cidade no dia seguinte, então queria aproveitar o máximo, mas não queria me limitar apenas àquela balada. Queria mais. Convidei-a para terminar a noite na minha casa, ela disse que pensaria na proposta. Enquanto foi ao banheiro com suas amigas, aproveitei para dar um pulo no camarote. Meus amigos já estavam todos muito bem acompanhados, diga-se de passagem. Fiquei um tempo alí até vê-la surgir novamente na pista. Desci, e enquanto caminhava com mais dificuldade que da primeira vez para chegar até ela, uma grande confusão de formou no centro da pista. Dois rapazes começaram a brigar feio, e por ironia do destino quando toda a galera afastou-se formando uma roda, dando espaço como um tatame para a briga, eu me mantive no meio. Mal conseguia me desviar dos socos trocado pelos dois, mas não conseguia sair dalí. Menos de 1 minuto, os seguranças da balada chegaram apartando a briga. E era óbvio que aquela noite não terminaria bem para mim, tava tudo perfeito demais pra ser verdade. Os seguranças pensaram que eu estava envolvido na confusão, e acabaram levando-me junto dos outro dois. No caminho tentava explicar que não estava envolvido, mas era inútil. Fora da balada, uma viatura já estava posicionada esperando pelos brigões, e eu injustiçadamente estava entre eles. 

Chegando na delegacia, até eu explicar que B não era P porque faltava uma barriga para P ser B, eu já estava preso. Acabei sendo liberado após os dois culpados explicarem o que de fato, havia acontecido. 4h da manhã. Peguei um táxi e voltei para a balada na esperança de ainda encontrar a minha loira maravilhosa. Chegando lá não havia mais ninguém, um dos seguranças disse que após o fim da briga, a festa também terminou. Que legal!

Cheguei em casa e, decepcionado com o rumo que a noite tomou, joguei-me sobre a cama sem sequer, tirar a roupa e adormeci lembrando do beijo maravilhoso que havia recebido daquela loira. Que mulher era aquela? Eu com certeza me orgulharia de andar de mãos dadas com ela na rua, não só pela sua beleza fascinante, mas pela sensação boa que ela me passava. Se ela estivesse vindo para a minha casa, talvez manteríamos contato e de repente podia nascer alguma coisa séria entre nós. Mas ela não veio, e agora eu estou aqui, lembrando com arrependimento de saber a faculdade que ela faz, mas não saber seu nome, muito menos o seu celular. Pois é, o destino as vezes nos dá um delicioso bolo de chocolate, e nos tira antes mesmo de chegarmos ao recheio.


5 comentários:

  1. Segunda vez que leio esse texto, e é perfeito !
    Já tô seguindo u-u

    ResponderExcluir
  2. É tão ruim quando vc quer algo, mas não adianta, pq já perdeu a oportunidade!

    Adorei o texto!

    ResponderExcluir
  3. Ao ler esse texto me transportei imediatamente para aquela balada,e pude ver exatamente o que você escreveu...

    ResponderExcluir