Foi amizade. Amor. E decepção também.

Ultimamente a vida tem me dado uns tapas na cara tão forte que ainda queimam cada vez que eu me lembro. Eu já deveria ter aprendido que quando algo aqui dentro diz que é não, é não. Porém como uma criança tola, eu insisto em explorar essa desobediência que carrego nas costas.

Tudo teria sido mais fácil se eu tivesse me mantido na posição inicial. Com firmeza, autoridade e sabedoria. Mas resistir a todo o momento aos encantos de um sorriso contagiante e um abraço de 40 graus é a pior de todas as provas de resistências da vida. E a dona deste sorriso não tinha só o calor do corpo para me oferecer. Ela tinha uma ginga, uma alegria no olhar, uma autoconfiança admirável e não poderia deixar de citar que suas curvas bem desenhadas eram como paisagem cultural para turistas da vida como eu.

A moça era bela dos pés a cabeça. Sabia ser agradável e conquistava todos por onde passava. E foi com essa simpatia que ela ganhou uma oportunidade para estar presente no meu dia-a-dia. Trabalhávamos na mesma empresa, mas em setores diferentes. Logo, só tínhamos a hora do almoço para compartilhar umas boas risadas e desabafar o estresse diário causado pelos colegas acomodados.

O que estava tranquilamente bem definido como amizade, mudou para algo que eu não gostaria que tivesse se convertido. Foi um passo em falso. Um degrau quebrado. Uma atitude incerta. Ela queria mais que amizade. Mais que abraços de despedidas no final da tarde. E mais que torpedos com mensagens de superação com um final de ‘boa noite, amiga’.

Eu sabia que não daria certo. Avisei inúmeras vezes. Recusei várias tentativas de beijos. Até apelei para a grosseria na esperança de que ela se convencesse que a nossa ligação era apenas amigável. Mas ela era durona. Não desistia. E nesse jogo duro acabei vendo demais aonde não tinha isso tudo. Ela conseguiu lapidar a minha pedra. Conseguiu amolecer o tal do meu coração. E mais, conseguiu me calar em argumentos que eu tinha respostas na ponta da língua, mas por ser ela, preferia deixar a minha brutalidade na esquina. Tudo o que eu mais temia aconteceu. Apaixonei-me.

Mas como um bom cabeça dura, continuei na resistência. Só que aí ela cansou. Deu de ombros. Parou de insistir e resolveu aceitar. E foi aí que eu percebi que não importa o quão acostumado você está com algo que já virou rotina, basta ele se ausentar um dia para que você passe a sentir falta.

E então chegou a minha vez de ir correr atrás do que já estava em minhas mãos. Bati no seu portão com o coração cheio de certeza e medo. Certeza de que agora eu a queria mais que uma amiga. E medo de que tivesse sido em vão. Mas não foi. Ela abriu com uma vassoura na mão e um sorriso no rosto. – Estava fazendo faxina em casa –.

Surpresa. Abraço. Beijos. – Finalmente beijos –. Fábrica de amor.

A tal felicidade durou pouco mais que quatro meses. Teve muitas flores, mas no primeiro espinho que surgiu foi suficiente para perfurar o meu peito da forma mais dolorida possível. A maior decepção que eu já tive veio com assinatura dela.

Álcool. Amizades erradas. Impulsividade. Traição.

Não perdoei. Não esqueci. E finalizei a nossa relação sem colocar os créditos dos momentos bons. Fiz questão de devolver os presentes que ganhei e avisei que a partir do momento em que eu cruzasse a porta, não voltaria mais. E pedi com suplicas para que eu fosse apagado de sua memória ou lembrado apenas como um romance de verão que não deu certo.

No dia seguinte pedi a minha demissão. Não é produtivo esbarrar todos os dias com quem te causa mal estar. Meu telefone tocou por algumas semanas até eu cansar de recusar e atender. Pedi para que me deixasse em paz. Avisei que ela era uma mulher o suficiente para compreender e aceitar um ‘não’. Foi um discurso tão difícil de ser concluído que a cada palavra dita, eu me sentia dilacerando por dentro. Minha voz já se fazia tremula, mas falei até finalizar com um “Vai ser feliz”.

Hoje eu estou aqui com o coração congelado. Lembrando-me dela a cada dia que possivelmente completaríamos mais um mês juntos. E torcendo para que de fato, ela tenha seguido o meu conselho. Afinal, ela merece bem mais do que eu tinha para lhe oferecer.